sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

• Eu vivo num país que...

Eu vivo num país que acho que se vai auto-destruir em pouco tempo.

Eu vivo num país em que foi agora diagnosticado tardiamente cancro na maldita da economia. E em que prescreveram a esta desgraçadinha sessões de quimioterapia bem pesadas, e sem término certo. Onde a paz de espírito dos seus cidadãos está a desaparecer a (pedro) passos (coelho) largos, que nem o cabelo.

Eu vivo num país onde o prazer de viver está a sumir. Onde estou a perder o apetite por tudo ou quase tudo. Onde quem ainda conserva algum apetite o vê ser estragado, sistematicamente.

Onde a directora de um Banco Alimentar contra a fome que nos faz festas no pêlo, a nós, pobres irresponsáveis, assiste de camarote ao imoral e irracional desperdício de produtos alimentares nas grandes cadeias de distribuição. Mas que não se coibe de nos atirar pérolas da sua sabedoria, adquirida aquando da sua vivência em Bruxelas, como funcionária na sede da União Europeia. Sendo a melhor dessas inconscientes boutades suas a famosa e mui sapiente expressão "Se nós não temos dinheiro para comer bifes todos os dias, não podemos comer bifes todos os dias"

Onde uma dessas grandes cadeias de distribuição alimentar até desiste de promover o consumo. Ao ponto de enveredar pela via oposta, incentivando a poupança com anúncios de televisão em que uma dona de casa chamada Raquel - típico estereotipo de uma acéfala classe média, resignada com o seu triste destino - exclama uma inqualificavelmente brilhante punch line como... "a carne de ontem é o empadão de amanhã"!!!… Cinco estrelas, ó senhores do Continente! Isto é o advertising tuga dos nossos dias no seu melhor...

Eu vivo num país onde está tudo a fechar! Onde um dos meus restaurantes preferidos para ir "encher a malvada" à maneira, de uma cadeia americana de comida tex-mex really damn good, encerra sem aviso prévio, sem mais nem menos, e sem que provavelmente estivesse a sofrer uma quebra significativa do seu volume de negócio. Ainda estou em estado de choque!... É que isto, do meu ponto de vista pessoal, é um golpe desses sacanas desses yankees bem pior do que os cabrões da Moody's nos considerarem lixo!..

Onde o governo deste país promove insensatamente a economia paralela quando deixa estupidamente numa evitável incerteza todos os trabalhadores, que são obrigados a descontar por exercerem - ainda - uma actividade remunerada, sem saberem o que o fruto do seu suor lhes vai render ao certo nos seus bolsos no fim do mês! Como um patrão daqueles bem usurários, para quem o salário dos que estão sob a sua alçada é um pormenor de somenos importância, ora essa!...

Onde uma silly season política e social, encetada há uns largos dezoito meses ou mais, parece ter vindo para assentar arraiais. Como uma erva daninha. Que já não tem fim à vista. E até lá vai, digo eu, aumentando, quiçá a um ritmo exponencial. Para nossa grande e colectiva surpresa. Ou vai daí, talvez não... Alguns de nós saw it coming our way. E já fizeram o que se impunha: bazar daqui p'ra fora. 

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